20070708

Aguardando a volta da setembrada!

Eis um poema que, considero, ser uma extraordinária forma de contemplar as férias.
Obrigado, Fernando Pessoa (Cancioneiro).

Análise

Tão abstracta é a ideia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica melhor em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longamente,
E a ideia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.

1 comentário:

Pedro disse...

«A doçura de não ter família nem companhia, esse suave gosto como o do exílio, em que sentimos o orgulho do desterro esbater-se em volúpia incerta a caga inquietação de estar longe - tudo isto eu gozo a meu modo, indiferentemente.»

Prosa de Férias (que já lá vão)